terça-feira, 7 de novembro de 2017

ANARQUISMO: VOCÊ CONHECE ESSA IDEOLOGIA?





Imaginamos que você já tenha visto esse A com um círculo em volta, todo “rabiscado”. Pois bem, esse é o símbolo da Anarquismo que, assim como o socialismo ou o liberalismo, é uma ideologia. Vamos entender o que significa ser anarquista?


O QUE É ANARQUISMO?

A palavra “anarquismo” tem origem na palavra grega anarkhia, que significa “ausência de governo”. O anarquismo é uma corrente de pensamento, uma teoria e ideologia política que não acredita em nenhuma forma de dominação – inclusive a do Estado sobre a população – ou de hierarquia e prega a cultura da autogestão e da coletividade.

Alguns dos valores defendidos pelos anarquistas são:
liberdade individual e coletiva, para o desenvolvimento de pensamento crítico e todas as capacidades individuais das pessoas;
igualdade – em termos econômicos, políticos e sociais, valor que inclui questões de gênero e raça;
solidariedade – a teoria anarquista só tem sentido se há entre as pessoas apoio mútuo, com colaboração e espírito de coletividade.

O anarquismo critica principalmente exploração econômica do sistema capitalista e o que chama de dominação político-burocrática e da coação física do Estado. Os anarquistas não buscam uma revolução política, mas uma revolução social, que parta da maioria da população, dos trabalhadores, da classe que sofre alguma forma de dominação. Sua ideia principal é a horizontalidade: um território em que não exista Estado, nem hierarquia e em que a população faça a autogestão da vida coletiva.


QUAIS SÃO OS PILARES DO ANARQUISMO?

Cada corrente de pensamento estrutura seus argumentos de formas variadas. A anarquista é conhecida principalmente por buscar um “governo de todos” e defender a ausência do Estado. Entenda quais são os pilares do anarquismo:


Crítica à dominação do Estado

O pilar mais conhecido da teoria anarquista é a crítica ao Estado e a crença em um território baseado na autogovernança. A crítica se estende a todo e qualquer tipo de sistema em que há Estado, dos que agem com intervenção mínima à máxima, dos mais autoritários aos mais liberais.

Existem duas formas de dominação, de acordo com a teoria anarquista: a do poder de decisão e da coerção física. A primeira consiste no que chamam de dominação político-burocrática, que seria responsável:

1) pela alienação política da maioria da população, que fez com que se estruturasse um sistema que permitiria só um pequeno grupo privilegiado adentrar o meio político e tomar decisões em nome da população – o que também critica a democracia representativa;

2) a existência de uma hierarquia entre os governantes e os governados, à qual os anarquistas se opõem, que é gerada por esse sistema de poder.

A segunda forma de dominação das classes dominadas seria o uso de coação física por parte do Estado, que além de poder fazer uso da força, tem seu monopólio. O anarquismo afirma que a força é utilizada pelo Estado quando sua legitimidade não é suficiente.


Crítica ao capitalismo

A ideologia anarquista critica o capitalismo, argumentando que esse sistema implica na exploração dos trabalhadores por meio dos proprietários dos meios de produção – uma reflexão similar às correntes socialistas.

O entendimento de exploração dentro do capitalismo para os anarquistas pode ser ilustrado com o seguinte exemplo exemplo: os donos de uma fábrica montadora de carros não trabalham montando os carros, mas pagam funcionários para prestar esse serviço. Logo, os proprietários são a classe dominante e os trabalhadores a classe produtiva – e dominada –, que trabalha a fim de transferir recursos ($) para a classe dominadora. A classe dominadora, por sua vez, se apropria de um excedente produzido pelos trabalhadores e lucra em cima de seu trabalho, o que caracterizaria a exploração, de acordo com Michael Schmidt e Lucien van der Walt.

Esse entendimento não é diferente num contexto de trabalho rural: acreditam que os proprietários de terra exploram o trabalho dos camponeses e, por isso, também fazem críticas às sociedades pré-capitalistas, cuja economia dependia do campesinato.




Crítica à dominação de gênero

Como é da identidade do anarquismo criticar qualquer forma de dominação, isso ocorre também quanto à dominação de gênero. A união de princípios anarquistas e feministas foi chamada de anarcofeminismo, que acredita na exploração da mulher pelo capitalismo por ele difundir o sexismo em suas instituições, desvalorizar economicamente o seu trabalho doméstico e reprodutivo, além de que os direitos adquiridos seriam válidos apenas a quem integrasse as classes dominantes. A luta do feminismo contra o patriarcado, o sistema social em que o homem é a figura referencial e de maior poder, só é vista como possível pelo anarcofeminismo com o fim do sistema capitalista.

A pensadora e militante anarquista Emma Goldman foi uma das fundadoras do anarcofeminismo e defendia, além desses seus princípios básicos, a liberdade da mulher de um jeito mais abstrato: “Busco a independência da mulher, seu direito de se apoiar; de viver por sua conta; de amar quem quer que deseje, ou quantas pessoas deseje. Eu busco a liberdade de ambos os sexos, liberdade de ação, liberdade de amor e liberdade na maternidade”, disse em 1857.

Lucy Parsons, anarquista estadunidense, considerada uma opositora das ideias de Emma Goldman dentro do anarcofeminismo, enfatizava que as mulheres seriam “escravas dos escravos” ao serem exploradas pelo capitalismo e sendo vítimas da dominação de gênero. Por isso, defendia também o protagonismo da mulher nessa luta.



Emma Goldman nujm protesto anarquista na Union Square, em Nova Iorque. 1916.

Foto: Domínio Público / WikiCommons


COMO SURGIU O ANARQUISMO?

O anarquismo surgiu no século XIX, no contexto de expansão e fortalecimento do capitalismo ao redor do globo. Por conta da Segunda Revolução Industrial, integraram-se estruturas econômicas mundiais e foram consolidados os Estados modernos. A difusão das ideias racionalistas da Revolução Francesa, como a liberdade individual, de expressão e a igualdade em todos os sentidos contribuíram para o fortalecimento da ciência e no enfraquecimento da influência da religião. Outro fator importante foi o socialismo e o comunismo, cujos ideais trouxeram a classe trabalhadora para a linha de frente o protagonismo, o que também influenciou o anarquismo.

O surgimento do anarquismo ocorreu por meio da Associação Internacional dos Trabalhadores, localizada em Londres, na Inglaterra, na década de 1860. A ideologia foi inspirada principalmente nos pensamentos de Pierre-Joseph Proudhon, cujas ideias foram tidas como a base do pensamento dos trabalhadores europeus no século em questão. Entre 1868 e 1894, já havia se desenvolvido significativamente e também havia sido difundido globalmente e teve grande influência dentro dos movimentos operários até 1949. A ideologia teve cinco grandes ondas, que diferenciam a atuação do movimento no mundo e a sua influência até os dias atuais.



Foto: Banfield / WikiCommons


COMO SERIA UM PAÍS ANARQUISTA?

Um país anarquista não teria um governo, nem qualquer forma de hierarquia e caberia ao povo fazer a autogestão política, em um autogoverno democrático. Haveria um poder político totalmente socializado e a substituição do Estado seria feita pelos conselhos: “representariam uma rede entrelaçada, composta por uma infinita variedade de grupos e federações de todos os tamanhos e graus, locais, regionais, nacionais e internacionais, temporárias, mais ou menos permanentes, para todos os objetivos possíveis”, como disse o teórico anarquista Kropotkin. Esse seria o modelo de autogestão anarquista, em que haveria a possibilidade da participação social ativa e efetiva em todas as decisões relativas à coletividade e à vida comum.

Grupos e associações livres formariam um conjunto de conselhos, com o objetivo de tomar as decisões local e democraticamente, com participação generalizada e ampla, controlando a execução dessas decisões e solucionando conflitos, reunindo todas as funções do que conhecemos como os “três poderes” Legislativo, Executivo e Judiciário. Essas esferas teriam a responsabilidade de discutir, deliberar e executar todas as tarefas relativas aos serviços públicos.

Uma sociedade anárquica teria uma grande noção de ética para a convivência em comunidade, em que todas as pessoas estariam envolvidas econômica, política, ideológica e culturalmente a fim de alcançar o bem comum. Os anarquistas defendem a socialização da propriedade privada dos meios de produção, o que implicaria na coletivização das máquinas, equipamentos, ferramentas, tecnologias, instalações, fontes de energia, meios de transporte, matérias primas, etc.

Uma sociedade fundada nos princípios anarquistas reorganizaria a produção “com base nas necessidades do povo”, como se fosse uma economia de subsistência, em que se produziria o necessário para viver, sem pensar em lucros ou excedentes. Como seria uma sociedade sem dominação e não-capitalista, os trabalhadores usufruiriam de todos os frutos de seu trabalho.


Fonte: Carla Mereles - Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), curadora do TEDxBlumenau e assessora de conteúdo do Politize!.

http://www.politize.com.br/anarquismo/

4 PONTOS PARA ENTENDER O COMUNISMO


Bandeira do Partido Comunista do Vietnã. Foto: Beto Conte
Comunismo

O comunismo é uma ideologia política e socioeconômica que pretende estabelecer uma sociedade igualitária, através da abolição da propriedade privada, das classes sociais e do próprio Estado. Embora a ideia de igualdade baseada no fim das classes tenha sido defendida por filósofos desde a antiguidade, o comunismo está associado sobretudo à teoria dos pensadores Friedrich Engels e Karl Marx. Entenda como surgiu o comunismo e quais são as principais ideias defendidas pelos adeptos a essa ideologia.


OS IDEAIS DE IGUALDADE NA ANTIGUIDADE E NA ERA MEDIEVAL


Embora Marx e Engels sejam apontados como os precursores do comunismo, os ideais de uma sociedade igualitária podem ser encontrados desde o período da antiguidade clássica. Em uma de suas obras mais importantes, intitulada A República, Platão formula um modelo de sociedade ideal, baseada na extinção da propriedade privada e da família. Segundo o filósofo, o fim da propriedade privada causaria o fim do conflito entre o Estado e o cidadão em particular, e a abolição da família teria como resultado uma maior devoção do indivíduo ao bem público.

Na sociedade idealizada por Platão, não existiriam vínculos matrimoniais e os filhos gerados pelos cidadãos, além de desconhecerem os seus pais, ficariam sob o cuidado permanente do Estado, que garantiria seu sustento e educação.

Com o passar do tempo, esses mesmos ideais foram constantemente reformulados. Entre os séculos XII e XV, grupos dissidentes da Igreja Católica pregavam o repúdio à propriedade privada e aos bens materiais em geral, a convivência humana em padrões de uma vida simples e a necessidade de uma vida comunitária, onde todos deveriam trabalhar e conviver em igualdade. Destacaram-se nessa corrente o abade Joaquim de Fiore, o franciscano frei Dolcino e o protestante Thomas Munzer.

O COMUNISMO NA IDADE CONTEMPORÂNEA


No século XIX, a Revolução Industrial transformou o contexto econômico e social dos países europeus. Ao mesmo tempo em que ocorria um pleno desenvolvimento do novo sistema capitalista, boa parte da população vivia em condições de miséria e exploração. Buscando uma solução para os diversos problemas que atingiam as sociedades na Europa, intelectuais da época passaram a propor sistemas políticos e econômicos que fossem uma alternativa ao sistema capitalista. Uma dessas proposições foi o comunismo, que está no cerne da teoria marxista.

Situado dentro do socialismo científico, o marxismo é uma corrente de pensamento criada por Karl Marx e Friedrich Engels. Para eles, em todas as épocas da história a sociedade foi marcada por uma luta de classes, sendo essa relação caracterizada pelo antagonismo entre uma classe opressora e uma oprimida. Na sociedade capitalista, essas classes são representadas respectivamente pela burguesia, que detém os meios de produção e por consequência boa parte da riqueza gerada, e o proletariado, que nada possui além da própria mão de obra, vendida como mercadoria ao proprietário do capital.

De acordo com a teoria marxista, os trabalhadores são tidos como uma mercadoria como qualquer outro artigo comercial, submetidos à concorrência e às oscilações do mercado. Nas fábricas, são amontoados e vigiados, tratados como servos da classe burguesa, do Estado burguês e do proprietário da fábrica, que possui como único objetivo o lucro.

O socialismo marxista propõe a abolição da propriedade privada, a socialização dos meios de produção, o fim da divisão de classes e a abolição do trabalho. Para Marx e Engels, quando a classe proletária fosse capaz de tomar consciência da sua situação e buscar uma organização de luta, assumindo o poder e administrando o sistema de forma justa e em prol de todos, as classes sociais seriam abolidas e com ela chegaria ao fim também o Estado. A partir desse momento, a sociedade estaria preparada para o sistema comunista.


QUAL A DIFERENÇA ENTRE SOCIALISMO E COMUNISMO?



Partido Comunista Chileno. Foto: Coletivo Bandeira Vermelha


Embora o socialismo e o comunismo sejam frequentemente tratados como sinônimos, existem algumas diferenças entre eles. Na teoria marxista, o socialismo é uma etapa para se chegar ao comunismo.

No sistema socialista, o Estado e o governo se mantêm no controle da vida social. Contudo, diferente do capitalismo, o Estado seria conduzido pelos trabalhadores e a produção e distribuição de bens controlados nas mãos do governo, que organizaria um sistema de igualdade e cooperação.

O comunismo, por sua vez, trata-se de um estágio posterior ao socialismo, quando já havendo igualdade absoluta entre os cidadãos, o Estado poderia ser abolido, eliminando as formas de opressão social, e a sociedade encontraria formas de se auto regulamentar. Assim, os trabalhadores se tornariam proprietários do seu trabalho e dos bens de produção.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE COMUNISMO E ANARQUISMO?


Já entendemos que a sociedade sem classes, a abolição do Estado e o fim da propriedade privada são importantes objetivos dos adeptos ao comunismo. Mas esses princípios podem ser vistos também em uma outra corrente de pensamento: o anarquismo. Por apresentarem propostas semelhantes do que seria uma sociedade ideal, pode ser um pouco difícil distinguir as duas correntes ideológicas. Vejamos a principal diferença.

O anarquismo é uma filosofia política que busca a eliminação total de todas as formas de coerção. Seus adeptos são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja socialmente aceita e defendem uma organização baseada na livre associação.

A principal diferença entre o comunismo e o anarquismo está no processo por onde se atingirá a sociedade ideal. No anarquismo, isso ocorreria de forma abrupta, em uma passagem direta do capitalismo para o novo sistema. Alguns autores, como o russo Mikhail Bakunin, defendem que essa mudança através de uma revolução violenta. Para Pierre-Joseph Proudhon, a passagem deveria ser pacífica, baseada na fraternidade e na cooperação entre os homens.

Já no comunismo, a sociedade ideal seria alcançada através de um processo de transição formado por três etapas: primeiro a superação do capitalismo através da revolução, decorrente da tomada de poder pelo proletariado; em seguida, o socialismo seria estabelecido; e por fim se chegaria ao comunismo. O comunismo só pode existir após o estabelecimento do sistema socialista.



A sociedade idealizada por Marx e Engels nunca chegou a ser implementada em nenhum país. Embora o sistema socialista tenha sido adotado por algumas nações, até então nenhuma delas conseguiu atingir a etapa final, que é o comunismo. Muito se discute se esse modelo seria possível ou apenas uma idealização. E você, acha que o comunismo pode ser implementado? Comente!


Referências:
MARX, K; ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret; 2014.







Fonte: Isabela Souza - Estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e assessora de conteúdo do Politize!.

http://www.politize.com.br/comunismo-o-que-e/